segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pequenos guerreiros lutam contra o câncer - Bauru

Crianças enfrentam longos tratamentos para vencer a doença; a boa notícia é que a maioria consegue






A sensação de uma mãe que recebe o diagnóstico de câncer num filho é sempre parecida.“É como uma bomba que jogam na cabeça da gente”, descreve Tamara Francisco da Silva, 21 anos. “O chão abre”, afirma Maria Aparecida Conceição, 44. 

Não dá para negar que o principal medo é perder o filho. O câncer ainda é visto como “bicho-papão”, doença cruel.


Mas tem cura em grande parte das situações. No caso das crianças, a maioria vence a batalha. A garantia é da médica Ana Cristina Xavier Neves, oncologista pediátrica do HEB (Hospital Estadual Bauru). 
“A chance de cura é de 70%. De cada dez crianças, sete ficam curadas”, diz. 

Em relação ao tratamento, uma notícia boa: não faltam vagas para os pequenos no HEB, que é público e só recebe pacientes por meio do SUS (Sistema Único de Saúde).

A médica garante: o tratamento é o mais avançado , não falta nenhum tipo de medicamento e há estrutura multidisciplinar necessária, com psicóloga, enfermagem, nutricionista e assistência social. 

O setor de quimioterapia faz parte da rotina semanal de  Ana Lara Francisco Moraes, 5. Ela tem leucemia, doença descoberta há dois anos. 

O BOM DIA a encontrou emburrada na manhã de quinta-feira (9). Lara não deu bola para repórter e fotógrafa. Mas foi só a brincadeira começar, ao lado do amigo Mateus Tosi Peres, 4, para abrir o sorriso. Ela desenhou, pintou e colou enquanto recebia a medicação.        

A menina faz quimioterapia de segunda a quinta-feira, sempre ao lado da mãe. Tamara precisou deixar o emprego numa escola de informática para cuidar da criança.

Também fez mudanças na casa, como a troca de piso e a instalação de forro. A limpeza precisa ser impecável, para evitar risco de infecções. O tratamento deixa a imunidade baixa, daí os cuidados intensos.

A jornalista Rose Araújo sabe bem o que é isso. No final de 2010, por causa de uma dor forte, foi descoberto um tumor de Wilms na única filha dela, Luíza Araujo Peres, 7.

A pequena enfrentou uma cirurgia de emergência, uma infecção que a deixou 15 dias no hospital e o tratamento quimioterápico. Rose criou um blog (umalindaluiza.blogspot.com) em que contou todas as dificuldades e vitórias.

Luiza já recebeu alta e voltou para a escola este mês.

O adolescente Paulo Vitor Fernandes, 16, vive a outra fase, a do início do tratamento. Foi diagnosticado há uma semana com leucemia, no auge da juventude. Pensam que desanimou? Nada disso.“Não adianta ficar lamentando, porque a doença eu já tenho. Então vamos atrás [da cura], para seguir em frente.”

Saiba mais

Maioria vive bem após tratamento adequado
Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias , os do sistema nervoso central e os linfomas .  O tratamento progrediu nas últimas quatro décadas.

100 É o número de doenças chamadas de câncer
Tumor no rim também é considerado comum

O tumor de Wilms (renal) também está entre os frequentes nas crianças.  Leva o nome do cirurgião alemão Max Wilms , que relatou casos e fez a descrição  da doença.

Sobre leucemiaÉ uma doença maligna dos glóbulos brancos. Geralmente, a origem  é desconhecida. Tem como característica o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea. O transplante é para alguns casos.

Mãe exigiu exame e salvou a vida do filho
O filho de Maria Aparecida Conceição, a mulher que sentiu o chão abrir quando soube da doença,  descobriu um tumor no mediastino aos 15 anos, no meio de uma vida agitada, que incluia escola, judô e atividades com os amigos da mesma idade. 

Foi um choque. O adolescente Adenilton Santos Miranda Júnior, caçula de Maria, sente muito a falta de ir para a escola como os outros meninos da idade e também dos programas juvenis.

Mas também está a caminho da superação e já se prepara para voltar à sala de aula. 

A mãe pode dizer que salvou a vida do filho. Ela levou o caçula várias vezes a unidades de saúde municipais por causa da dor nas costas e da falta de ar que o garoto sentia.

Ouviu que deveria ser dor muscular causada pelos exercícios físicos praticados e, numa das vezes, precisou brigar para conseguir que ele fizesse um exame raio-X.

O exame mostrou água no pulmão e Adenilton foi encaminhado às pressas para o Hospital Estadual, onde recebeu o diagnóstico e faz o tratamento. 
Maria afirma que o carinho da equipe ajuda ela e o filho a passarem por uma situação que não imaginavam enfrentar. 
“Isso conta muito”, diz. 

Adenilton, claro, está louco para tudo acabar e ele poder voltar para a escola e para o judô. “Tenho vontade de fazer tudo o que fazia antes”, revela. 

E deve ser logo, após a batalha que o adolescente tem forças para enfrentar, ao lado da mãe que nunca deixa o filho sozinho.

OpiniãoRose Araújo, 
mãe da Luíza

‘Prometemos que todo dia seria o mais importante’
Chegando na escola para o primeiro dia de aula, um cartaz recepcionava os alunos falando da alegria de recomeçar. Ali, ninguém sabia melhor o valor do recomeço do que a minha filha. Isso posso afirmar sem sombra de dúvida. 

A volta à escola foi um dos momentos mais marcantes nessa dura caminhada.
Foram mais de oito meses de luta, desde a retirada do rim direito até o fim das sessões de quimioterapia. Um período angustiante, cheio de agulhas,  hospital, internações...

Luíza não podia ter contato com muita gente por causa da imunidade baixa e, por isso, nada de escola, festas, passeios nem mesmo brincadeiras com amiguinhos. Ela aguentou firme, não reclamou, cumpriu suas tarefas direitinho, sempre esperando pelo dia em que teria alta e a vida voltaria a ser como antes.

Nossa grande batalha foi o tratamento, que deixa a pessoa fraca e isolada do mundo.

Os cabelos caíram fio a fio. Uma mudança radical para uma menininha vaidosa e cheia de charme. 

A última sessão foi dia 25 de agosto de 2011. Que festa, que alegria! Comemoramos com champanhe (sem álcool, claro) e prometemos que, dali em diante, todo dia seria o dia mais importante da vida.

Vibramos com o primeiro passeio, com a primeira viagem, com a primeira amiguinha que foi em casa brincar, com o direito de chegar perto da cachorra... E, agora, vivendo um momento pra lá de especial, com o retorno à escola. 

Mais do que a liberdade de estudar, é um símbolo de que a vida volta ao normal, de que o pesadelo está cada vez mais distante e de que temos muito ainda pela frente, muita vida para viver.

Mães precisam ficar atentasA médica Ana Cristina Xavier Neves alia o afeto aos pacientes ao estilo direto de orientar pais e mães de pacientes infantis

Atenção, mães! O papel de vocês é fundamental na hora de desconfiar que algo mais grave acontece na saúde dos filhos. São as mães que costumam ligar o sinal de alerta e procurar ajuda médica quando os filhos apresentam sintomas que podem ser de um câncer. 

Oncologista pediátrica que está desde 2004 em Bauru, Ana Cristina Xavier Neves tem dado orientações a pediatras da rede municipal para facilitar o diagnóstico e, em consequência, o início rápido do tratamento. “Com o diagnóstico rápido, a chance de cura é maior. E quem normalmente faz isso é a mãe”, afirma a médica. 

Foi o caso de Maria Aparecida Conceição, 44 anos, que levou o filho ao médico várias vezes por não se conformar com a explicação para a falta de ar e dor nas costas que ele sentia. Os profissionais que o atenderam achavam que era dor muscular por causa de exercícios, mas exames mais detalhados, exigidos por ela, mostraram um tumor no mediastino. 

Ana Cristina lista alguns cuidados que as mães devem tomar: fazer o pré-natal, garantir o acompanhamento pediátrico regular da criança no primeiro ano de vida (pesar, medir, examinar), depois do primeiro ano, levar ao médico nos primeiros sinais de problemas na saúde, observar sangramentos, palidez, surgimento de gânglios  e sintomas que persistem, como febres contínuas.“É preciso observar tudo o que for persistente e não melhorar”, aconselha. 

E, claro, garantir a boa alimentação e a higiene das crianças e adolescentes. 

A médica escolheu a oncologia infantil ao fazer residência no Centro Infantil Boldrini, de Campinas, referência no tratamento de crianças com câncer. 

De lá, foi para Manaus (AM) por causa da transferência profissional do marido. Ali  criou um grupo de apoio para o que considera fundamental nesse tipo de tratamento, o apoio multidisciplinar. 

Em Bauru, já virou referências para os casos de tumores em crianças e adolescentes. Consegue aliar o afeto pelos pacientes ao estilo direto e técnico na hora de informar pais e mães sobre os cuidados necessários. “Não é um tratamento fácil”, diz. “O pai ou a mãe precisa estar presente o tempo todo”.

Saiba mais
É forte a ligação entre crianças e profissionais
Quando ocorre a morte de algum paciente na oncologia infantil do Hospital Estadual, os médicos e  funcionários do setor param e se reúnem para um encontro de luto. Conversam e choram pela criança perdida.  “Falamos até esgotar o assunto”, afirma a médica Ana Cristina.

6 é o número de anos que Ana Cristina passou em Manaus, onde ficou conhecida por criar um grupo de apoio

Hospital não é sinônimo apenas de dorA oncologista afirma que o setor que recebe crianças no hospital deve ser um lugar em que elas consigam se divertir, apesar do  tratamento pesado. Lá elas têm brinquedos, desenhos para pintar, TV ligada em canais infantis e apoio social e psicológico. Datas como Páscoa, Dia das Crianças e Natal são comemoradas.
Fonte: Bom Dia - Bauru

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